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sexta-feira, 18 de março de 2011

APARTHEID

Havia casas de banho públicas perfumadas e limpas, para uns e outras sujas e mal cheirosas, para os outros.
Nos restaurantes mais luxuosos só podiam entrar os da cor dominante. Os da outra cor só comiam em restaurantes populares.
No Metro, havia carruagens com ar condicionado destinadas aos privilegiados e, ao fundo do comboio, duas carruagens velhas, húmidas, desconfortáveis onde se apinhavam os outros, como sardinhas em lata.
Nos modernos autocarros prateados era proibida a entrada à raça dominada.
Nas deslocações pela cidade, os servos pertencentes a esta raça segregada tinham que se contentar com umas camionetas velhas, ferrugentas, a cair de podres, com os estofos rotos e onde entravam os gases dos motores antiquados e quase em fim de vida.
Os casamentos mistos eram proibidos. Desta forma se evitava a miscigenação que a classe dominante temia.
Nas praias destinadas à classe dominante, as pessoas protegiam-se dos raios solares para não adquirirem excessivamente a pigmentação de pele, característica da ralé, dos segregados.
É que, naquela atmosfera rarefeita de Marte, os raios solares azulavam e arroxeavam a bela pele verde-alface dos corpos sensuais, de atraente viscosidade, das mulheres e dos homens que dominavam o planeta.
E eles e elas não queriam ser confundidos com os seus escravos de pele ressequida e azul...

1 comentário :

  1. Um belo conto de ficção especulativa, tão inteligente e provocante quanto conciso. Nota dez!!!

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