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quarta-feira, 13 de julho de 2011

NO QUARTO ANDAR EM FRENTE

Por essa altura, uma bela quarentona de cabelos pretos de azeviche, veio morar no quarto andar do prédio defronte da minha casa.
Os meus vinte e seis anos, ainda solteiros e viçosos, despertaram ao vê-la à janela, a um sábado de manhã, a sacudir o pó de um tapete, o busto firme e redondo a dançar dentro da blusa preta e justa.
À noite regressava a casa cedo e quedava-me invariavelmente na varanda da sala, fumava cigarros atrás de cigarros a olhar o vai vem do perfil elegante e de formas generosas da minha nova vizinha a cirandar na cozinha com a luz acesa.
Noite após noite, depois de ela apagar a luz, acabava por me estender na cama, com os olhos fixos no tecto sem o ver, a imaginar o que estaria ela a fazer naquele momento.
Construía as mais mirabolantes imagens, adivinhava-a no quarto, deitada de lado, o braço roliço dobrado sob o peito, o respirar cadenciado de um sono calmo, retemperador das lides diárias. E o desejo de estar com ela inundava-me a mente e o corpo...
Fazia planos para, no dia seguinte, ir bater-lhe à porta para lhe dizer que estava apaixonado por ela. Mas logo os abandonava, receoso da reacção que ela pudesse ter.
Não! Tinha que encontrar uma forma menos intempestiva, de proporcionar um encontro ocasional com ela, mas para isso tinha que descobrir quando é que saía de casa, para ir trabalhar ou para ir às compras.
Embora mais velha do que eu, era o género de mulher que me atraía. Cheia, robusta, sólida e, sobretudo, morena de cabelos negros.
Eu perdia-me por mulheres de cabelos pretos! Fazia parte dos meus genes!
No sábado seguinte de manhã, acordei cedo e lá fui, como de costume, para a varanda, na expectativa de a ver sair e tentar um encontro casual.
Passado um bocado, a janela do quarto andar abriu-se e por entre as portadas, vejo sair um tapete oscilando no vazio preso pelas mãos da minha vizinha que o sacudiam vigorosamente.
O corpo dela debruçou-se, pela primeira vez olhou para mim e sorriu-me. O meu coração disparou em incontroláveis e fortes batidas, acenei-lhe de leve com a mão com um leve sorriso, e só então reparei que os seus cabelos estavam louros. Talvez por causa do meu ar espantado, disse-me a rir que tinha pintado o cabelo!
Mandei os genes às malvas e reconfigurei os meus gostos! A partir daquela visão, passei a ser um perdido, um louco por mulheres louras...
Rui Felício

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