Enchidos, chispe, toucinho, mão
de vaca, entrecosto eram os seus alimentos preferidos.
Uma boa feijoada de lebre, uma perdiz estufada, um pombo na púcara, uns tordos fritos em banha de porco também o faziam salivar, mas só os podia degustar na época venatória.
Uma boa feijoada de lebre, uma perdiz estufada, um pombo na púcara, uns tordos fritos em banha de porco também o faziam salivar, mas só os podia degustar na época venatória.
Quando abria a caça, o Melo levantava-se
de madrugada, municiava-se e equipava-se como quem vai para a guerra,
palmilhava veredas e montes, emboscava-se, camuflava-se è espera do animal que
lhe passasse no perímetro de tiro. Mais do que abater as vítimas, era o acto de
caçar que o viciava. Estava-lhe na massa do sangue, sentia um frémito a
percorrer-lhe o corpo, um arrepio, um prazer mórbido de matar. Sentia-se um ser
poderoso quando empunhava a espingarda. Era a forma que encontrava de exercer a
vingança sobre seres indefesos, dos maus tratos que sofria no dia a dia.
O médico um dia deu-lhe a má
notícia. A sua vida estava por um fio! Mas ainda ia a tempo de remediar o mal
se passasse a alimentar-se de forma racional. Proibiu-lhe as carnes, os
enchidos, as gorduras animais. Preferencialmente, devia alimentar-se de
legumes, de frutas, de vegetais!
Assustado, o Melo decidiu que
passaria a ser vegetariano. Jamais voltaria a comer carne nem peixe!
Mas o que nunca deixaria de ser
era caçador! Se não podia comer carne, passaria a ser um caçador vegetariano.
Até tinha vantagens, dizia ele de
si para si. Porque não existe época venatória para se caçarem vegetais.
Agora, era raro o dia que não o
vissem sair de manhã cedo, de caçadeira ao ombro, vestido de camuflado,
cartucheiras à cintura, em direcção às hortas e pomares dos arredores.
À hora de almoço regressava, orgulhoso, com tomates,
alfaces, pepinos, pimentos, couves, laranjas, pêssegos, tudo pendurado dos
ilhoses do cinturão.
Certa vez, ao fim da tarde no
café, numa roda de amigos, perguntaram-lhe para que ia ele de caçadeira em
punho, armado em caçador, para depois regressar com legumes e frutas. Os
vegetais não fogem, galhofavam os amigos…
- Eu sei! respondeu o Melo. Mas quando
os donos aparecem e me tentam proibir de trazer as peças de caça, eu tenho que
os abater.