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sexta-feira, 29 de março de 2013

FAZER AMOR DENTRO DE ÁGUA



Hoje de manhã a maré estava baixa, como eu gosto.

É quando, durante umas horas, o mar nos revela parte dos segredos de uma vida esfusiante que se abriga nas rochas, onde a erosão milenar foi escavando túneis e grutas que protegem os seres marinhos dos seus predadores.

Serpenteando, a água límpida, num ondular repetitivo, mas nunca repetido, vai banhando as rochas descobertas, as algas, os musgos, os ouriços, os moluscos, os pequenos peixes, até os insectos.

A mim, acariciava-me as pernas meio submersas, intrusas…

Involuntariamente, fixo o meu olhar num casal, mais à frente, recoberto pela água, entregue à loucura de um apertado abraço.

Bolhas de ar subiam velozes, desfazendo-se em espuma à tona de água, como capitoso champanhe.

Presenciar a beleza de um acto de amor, em invulgar ambiente aquático, afastou os pruridos que a razão me aconselhava. Foi mais forte do que eu, invadir a privacidade daqueles jovens…

A refractária ondulação permitia-me adivinhar, mais do que realmente ver, deformadas, as imagens dos braços enleados, das pernas entrelaçadas, das bocas coladas, dos corpos fundidos num só.

Num frenesim!

Uma e outra vez a água revolteava-se quando os corpos daqueles jovens surgiam à tona, já indiferentes aos olhares estranhos, perto do êxtase.

Subitamente, a calmaria…

Ainda os vi, de braços enlaçados, deslizarem suavemente, lado a lado, afastando-se, saciados, em direcção a uma rocha mais longínqua.

Amanhã vou estar de novo naquela praia. Gostava de poder agradecer àqueles dois jovens polvos, por me terem mostrado a beleza do amor dentro de água…

Rui Felicio

5 comentários :

  1. Ah, maravilha dos «contos Felícios». A malta d'a funda São vai adorar... como sempre!

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  2. Que bom é ouvir essas palavras de alguém que sabe apreciar e que domina a palavra como poucos.
    Obrigado São Rosas!

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    1. Lá estás tu a deixar-me toda molhadinha, Felicito... (soa bem, "Felicito"... ihihih)

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  3. Adorei este teu conto! É um prazer ler o que escreves , principalmente como escreves!E para mim não é ficção.É uma situação que acontece não raras vezes...
    Repara como a São Rosas apanhou com alguns salpicos da água do mar...
    Também não admira, pelo que temos constatado...anda sempre "molhadinha"E não se constipa!!!

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    1. Como é que uma gaja não há-de andar toda molhadinha, com esta prima Vera encharcada?!...

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